Eis que a aurora me fere com sua luz sem piedade,
desfaz os véus da noite
e leva contigo os sonhos —
tão breves, tão intensos —
como bruma que o vento desfaz.
Ficas, porém, gravada em mim,
na pele da alma,
onde o desejo deixou cicatriz —
doce e pungente,
prazer que também doeu.
Amor que não se apaga.
Oculto entre silêncios,
te guardo, pecado sagrado,
memória de um instante encantado
que o tempo, caprichoso, não pôde manter.
Mesmo longe,
a tentação persiste,
arde tênue e viva em meu ser,
como chama que não se entrega ao fim.
E então, em palavras,
selos de eternidade,
escrevo-te.
Não para possuir-te,
mas para que nunca morras.
Doce tentação…
és agora verso,
glória suspensa no ar,
lembrança invencível
de um amor
que a vida negou,
mas a poesia consagrou.