Se tua paixão é rio que ruge, sem freio,
sou a margem que sonha em conter tal delírio.
Mas cedo, me entrego ao fervor desse anseio,
sou fogo que dança no mesmo martírio.
És mar que arrasta, furor que consome,
eu sou veleiro de alma rendida,
no teu rugido meu nome se some,
mas me reencontro no sopro da vida.
Se és centelha que o céu desafia,
sou brasa encantada em teu redemoinho.
Tua tormenta é também poesia,
que escreve em mim seu verso sozinho.
Paixão que devora, mas nunca destrói,
em teu furor, sou flor que floresce.
Mesmo que o mundo em cinzas me ponha,
teu beijo me rega, teu corpo me aquece.
E assim nos cruzamos: meteoro e planeta,
tua órbita louca, meu chão a girar.
Indomável és tu — mas em mim te completa
o desejo sereno de te amar, sem domar.
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Cléia Fialho