
À beira do rio, onde a luz se derrama,
teu olhar acende a margem do instante.
A dança não começa nos pés,
mas no arrepio que atravessa a pele.
Os corpos se buscam —
sem pressa,
mas com a urgência de quem já sabe
o gosto do destino.
A brisa levanta o lençol
como se desnudasse o tempo,
e nele,
passado e presente se tocam,
como nossas bocas,
lentas, certas, famintas.
Giramos no fogo calmo do querer,
onde o fetiche é semente
e o prazer, flor aberta no meio do dia.
O mundo lá fora desbota —
só nós existimos
neste rito antigo de amar
com todos os sentidos
à flor do agora.
E se o amor é fome,
a gente se devora
num eterno começar.
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Cléia Fialho