Há uma febre no gesto que desliza,
um tremor que escorre na pele do instante.
Não há mapa, nem saída,
no labirinto onde o toque é delirante.
Cada mão é um verbo que implora,
um destino que se escreve em carne.
Os corpos, desfolhados em silêncio,
confessam pecados sem alarde.
Eis a paixão — feroz e muda —
que escava a alma com garras de bruma.
É chama que lambe e despedaça,
é noite sem fim sob a mesma espuma.
As palavras, exaustas, se recolhem,
deixando à pele a língua dos sentidos.
E o tempo, cúmplice das horas rasgadas,
abraça os amantes, já quase esquecidos.
Há um eco que não morre,
na cúpula onde as promessas jazem.
E entre o delírio e o desencanto,
o amor, ferido, ainda se refazem.
No espelho, um reflexo se desfaz,
mas a lua — ah, a lua — persiste no olhar.
E as bocas, ainda que caladas,
insistem em querer se encontrar.
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Cléia Fialho