Sou névoa que dança
nos braços da manhã,
soprada por mãos invisíveis
que conhecem o rumo do sonho.
Minha essência não pesa —
paira.
Sussurra entre ramos úmidos,
envolve troncos com ternura úmida,
desfaz contornos com carinho.
Ecoa um trovão distante.
E não temo.
Pois sei que até a tormenta
carrega no ventre
um ventre de calma.
Nas poças, vejo rostos
de tempos que fui,
e na transparência do instante,
descubro que a bruma
é apenas o abraço
entre o que passa
e o que permanece.
Sou vapor que acolhe,
sou o silêncio
que antecede a poesia da chuva.
Sou, no fim,
o suspiro do céu
quando ele encosta no chão.
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Cléia Fialho